Aurê Aguiar • 22/09/2023
“Todos nós, em algum momento, nos perguntamos sobre o propósito da vida e sobre o sofrimento inevitável que ela traz.”
Agarre a vida.
A vida é curta. Viver é incerto, é preciso equilibrar-se para tecer, fio a fio, o entrelaçado dos dias bons com os ruins. O que tem para hoje pode não existir amanhã. É preciso estar em si para usufruir o dia do jeito que ele vier. O sentido da vida é para frente.
O universo grita em epidemias, catástrofes, fome e guerras e, ainda assim, pode ser inaudível, porque a voz da consciência é um sussurro. O desequilíbrio fora de nós pode ser uma pista para grandes descobertas interiores. Quem sabe, desviar o olhar para tudo que está fora também seja uma forma de não olhar para dentro?
Somos muito secretos para nós. Às vezes, nos encontramos em encruzilhadas filosóficas, onde as ideias se entrelaçam em um complexo tecido de pensamento. São nossos entrecruzamentos.
O budismo, com sua compreensão profunda do sofrimento e impermanência, e o conceito do filósofo alemão Friedrich Nietzsche de “Amor-Fati”, formam uma síntese peculiar desses momentos de aceitação e o amor pelo destino.
As ruas das cidades, com ondas de ruído e caos, parecem tão distantes dos serenos mosteiros budistas. Mas a busca por sentido persiste em ambos os ambientes. Todos nós, em algum momento, nos perguntamos sobre o propósito da vida e sobre o sofrimento inevitável que ela traz. É aqui que o budismo nos oferece um farol, iluminando a natureza inerente ao sofrimento e a possibilidade de transcendência através da compreensão.
Por outro lado, Nietzsche, com sua paixão ardente e abordagem impetuosa, nos convida a abraçar a vida em todas as suas facetas. “Amor-Fati” não é apenas aceitar o destino, mas amá-lo, seja ele repleto de desafios, sofrimentos ou alegrias. Há um destemor inerente nessa filosofia, uma coragem de enfrentar a vida de peito aberto, sem desejos de que o passado ou o presente fossem diferentes.
Como filosofias, aparentemente tão diferentes, podem coexistir em harmonia? Pode ser que a chave esteja na aceitação. Ambas as ideias nos incentivam a aceitar a realidade como ela é, seja através da compreensão da impermanência e do sofrimento, seja através da celebração apaixonada da vida em todas as suas manifestações.
Há dias de luta e dias de glória. O mistério da vida habita em ambos. Nos primeiros, estamos sobre as asas de anjos e, nos outros, somos anjos de alguém. Cada momento carrega em si a semente da iluminação e da aceitação.
A complexidade da existência humana não traça rotas tranquilas, mas podemos escolher a mais amorosa conosco e com o mundo. A emoção que me assombra cada vez mais é a disposição de amar a vida. O amor é o nosso entremeio bordado com o divino.
Encontrei nas palavras de despedida da influenciadora britânica Nicky Newman, que faleceu na última segunda-feira, aos 35 anos, cinco deles de luta contra um câncer de mama, mais força para desbravar a trilha que faz sentido na minha vida: “Prometam apreciar as pessoas ao seu redor e abracem muito seus amigos e família. Agarrem a vida! Você nunca sabe de verdade o que o futuro guarda, então não subestime nada.”
https://www.agazeta.com.br/colunas/aure-aguiar/o-sentido-da-vida-e-para-frente-uma-sintese-entre-o-budismo-e-nietzsche-0923